Release
Antifas! – A Arte de Não Fazer Sentido
A vida é urgente. Sopro envolvente que inebria e se desfaz. Esta fluidez mundana e orgânica influenciou a formação dos Antifas! na cidade de São João Del Rey/MG em 2022. Um grito de socorro se fazia necessário. A reunião do baixista, compositor e vocalista Zandré de Deus com o guitarrista Cabelo foram o estopim do primeiro álbum da banda “Proibido Atirar nos Músicos”. Lançado às pressas – em 11 de outubro daquele mesmo ano – serviu como trilha sonora para a eleição presidencial no Brasil, tão polêmica e vilipendiada. Como uma catapulta medieval, as faixas gravadas pela dupla – já com a entrada do baterista Fábio Almeida – cortaram o ar como pedras em chamas. Um frenesi punk, metal e urgente; com letras diretas e panfletárias que escancaravam toda dissonância social que estava latente naqueles dias. Eram necessários socos no estômago, ganchos no queixo e diretos no meio das faces que jorravam impropérios fascistas e ditatoriais.
Dois anos se passaram, a sociedade continua dividida e mudanças aconteceram. O guitarrista Cabelo deu lugar ao músico e produtor Flávio Schiavoni. Um novo repertório surgiu e, com ele, as faixas que formam o novo álbum dos Antifas! “A Arte de Não Fazer Sentido”. A arte tem sentido? É em torno deste questionamento que o compositor Zandré delineia suas letras ao longo do disco, com frases mais diretas somadas à reflexões e questionamentos filosóficos. Aqui a banda deixa de lado um panfleto mais explícito, buscando elevar a discussão para um discurso menos modular e mais poético. Gravado, mixado e masterizado durante o ano de 2024, as novas canções bebem em diferentes fontes, desta vez passando da urgência punk para uma roupagem mais abrangente e própria. O som dos Antifas! ganha em identidade.
São 10 faixas que misturam elementos variados, do batuque ao peso do metal, passando por variações roqueiras e regionalismos mineiros. Cordas, percussão, vinhetas e sons imaginários surgem em uma amplitude mais variada na escala evolutiva do trio. Uma introdução introspectiva “31 de Janeiro” abre o álbum, com um violão bucólico tocado por Zandré na varanda de sua casa em Tiradentes-MG. Em “Pra quem nasce o sol” uma roda de samba é invadida por violões urgentes, guirarras rasgantes e a bateria sempre pesada de Fábio Almeida. “Maconha” relembra a força panfletária do primeiro disco com uma guitarra oriental de Flávio Schiavoni. “Davi e Golias” traz uma influência sessentista de garagem, com um show a parte do baterista. A faixa “A Arte de Não Fazer Sentido” é uma colagem sonora iconoclasta e sensorial. “Minas Gerais” oferece uma tradição do estado: lirismo pop e trash metal. Em “1811” mais uma vinheta acústica que poderia caber em algum filme de Wim Wenders. “Se não gosta de mim” é um deboche escancarado que contempla o Foda-se em sua essência. “Zé Qualquer” oferece peso e riffs escancarados para emoldurar as relações de abuso no trabalho. Finalizando o álbum, a infame “Quinze Segundos” que simplesmente reinventa a máxima de Andy Warhol em apenas…quinze segundos.
Os Antifas! caminham para outro lugar. Com peso, leveza, inventividade e muita melodia. Nada mais os aprisiona, nenhum estilo os contém. O fascismo cultural também existe e suas amarras são sutis. O som é livre, a música transcende e o universo é amplo. Buscar sentido na criação é uma utopia pela qual o trio mineiro não quer se embriagar.